À guerra do capital…<br>respondemos com luta social!

Ângelo Alves (Membro da Comissão Política)

Quanto mais a eco­nomia mun­dial é em­pur­rada para uma es­piral re­ces­siva mais as classes do­mi­nantes con­cen­tram e cen­tra­lizam ca­pital e poder. De­sen­volve-se assim uma es­ca­lada de guerra contra os di­reitos dos tra­ba­lha­dores e dos povos, contra a de­mo­cracia, a so­be­rania e a paz.

A luta de classes está em apro­fun­da­mento

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Na pas­sada se­gunda-feira, em an­te­ci­pação à di­vul­gação das suas pre­vi­sões eco­nó­micas, o FMI ace­nava com o ce­nário de uma grande de­pressão a nível mun­dial si­milar à dos anos 30. No dia 17 de Ja­neiro, o eco­no­mista chefe das Na­ções Unidas en­trou numa sala pe­jada de jor­na­listas para a apre­sen­tação das pre­vi­sões eco­nó­micas da ONU e pediu des­culpas pelas «más no­tí­cias». Afir­mava o re­la­tório que «a eco­nomia mun­dial está à beira de uma outra grande re­cessão».

Assim o é, e o fulcro do pro­blema está na tríade ca­pi­ta­lista. Os dados re­la­tivos ao de­sem­penho eco­nó­mico nos EUA con­firmam uma si­tu­ação ex­plo­siva e apontam para a pos­si­bi­li­dade de de­sen­vol­vi­mentos abruptos du­rante o ano de 2012. No Japão, os dados di­vul­gados re­la­ti­va­mente ao ano fiscal 2011-2012 con­firmam a con­tracção do PIB em - 0,3% num quadro de ma­nu­tenção de uma gi­gan­tesca dí­vida pú­blica (200% do PIB). Por sua vez, na Eu­ropa, de­pois de vá­rias ci­meiras «his­tó­ricas» e nas vés­peras de mais um Con­selho Eu­ropeu «de­ci­sivo», o ce­nário di­fi­cil­mente po­deria ser pior. Na Grécia – país com uma dí­vida cres­cente que atinge já 162% do PIB (350 mil mi­lhões de euros), com uma con­tracção do PIB de -7,5% e com uma taxa ofi­cial de de­sem­prego de 18,2% – a ban­car­rota des­con­tro­lada é adiada em função das ne­ces­si­dades do grande ca­pital fi­nan­ceiro.

Em Es­panha a si­tu­ação eco­nó­mica é igual­mente ar­ra­sa­dora: pre­visão de quebra no PIB de -1,7% em 2012 e uma taxa de de­sem­prego ofi­cial de cerca de 21%. A pos­si­bi­li­dade do país vi­zinho poder vir a ser a pró­xima ví­tima da «ajuda» da troika não pode ser posta de lado. A Itália vê-se a braços com uma gi­gan­tesca dí­vida e com a pre­visão de uma re­cessão eco­nó­mica em 2012 (-0,3%). A Ir­landa con­tinua mer­gu­lhada na es­tag­nação eco­nó­mica e re­gista uma taxa ofi­cial de de­sem­prego de 14,5%. A si­tu­ação por­tu­guesa não é ex­cepção e a no­tícia do Wall Street Journal de que Por­tugal po­derá ser alvo de um se­gundo pa­cote de res­gate diz quase tudo sobre o «bom ca­minho» do nosso País.

Por sua vez, na Ale­manha, o seu Banco Cen­tral já con­firmou o ce­nário de re­cessão na pri­meira me­tade de 2012. No en­tanto isso não im­pede nem que as cé­le­bres agên­cias de ra­ting con­ti­nuem a afirmar que para a Ale­manha «tudo», nem que o ca­pital con­tinue a com­prar dí­vida alemã a taxas de juro ne­ga­tivas ou nulas, ou seja, pa­gando para pôr o seu ca­pital a salvo (como se de o alu­guer de um cofre forte se tra­tasse) na pos­si­bi­li­dade de im­plosão do euro – um ce­nário cada vez mais real.

 

Que fazer?

 

Mas, e pe­rante este di­ag­nós­tico, o que fazem os res­pon­sá­veis por esta crise? In­sistem exac­ta­mente nas mesmas po­lí­ticas e tentam ir mais longe na sua im­po­sição à força.

Por um lado fazem nascer o pacto fiscal co­zi­nhado entre Ale­manha e França. Um pacto de agressão contra os tra­ba­lha­dores e os povos da Eu­ropa, pa­rido do con­luio entre go­vernos, ins­ti­tui­ções da UE e ca­pital fi­nan­ceiro e aben­çoado pelo FMI. Um pacto que acen­tuará ver­ti­gi­no­sa­mente o ca­rácter já pro­fun­da­mente re­ac­ci­o­nário e an­ti­de­mo­crá­tico da União Eu­ro­peia, con­cen­trará ainda mais o poder eco­nó­mico e po­lí­tico, es­pe­zi­nhará o que resta da so­be­rania dos povos e não dará res­posta a ne­nhuma questão que hoje se co­loca às eco­no­mias eu­ro­peias e muito menos à pro­funda crise so­cial na Eu­ropa.

Por outro lado, abre-se todas as frentes de ba­talha contra os tra­ba­lha­dores numa au­tên­tica guerra cujo ob­jec­tivo é fazer re­gredir a Eu­ropa sé­culos em termos de di­reitos la­bo­rais, so­ciais e ci­vi­li­za­ci­o­nais. De­pois de Por­tugal, é a vez de na Itália, em Es­panha e na Grécia es­tarem em marcha si­mu­la­cros de ne­go­ci­a­ções com vista a en­volver o sin­di­ca­lismo re­for­mista no ataque ge­ne­ra­li­zado ao mundo do tra­balho, ten­tando isolar aqueles que re­sistem e não se rendem ao crime anti-so­cial or­ga­ni­zado.

Si­mul­ta­ne­a­mente de­sen­volve-se as frentes ide­o­ló­gica e mi­li­ta­rista. Os co­men­ta­dores e ex­perts des­do­bram-se em de­cla­ra­ções e ar­tigos que por baixo do pano do si­tu­a­ci­o­nismo tentam sal­va­guardar o es­sen­cial, ou seja o sis­tema. Os tam­bores de guerra soam mais alto no Médio Ori­ente e evi­den­ciam o ca­rácter im­pe­ri­a­lista de blocos como a UE.

Mas a cam­panha me­diá­tica que sus­tenta a de­riva mi­li­ta­rista já não con­segue es­conder nem o em­bate cres­cente entre as po­tên­cias im­pe­ri­a­listas e os cha­mados países emer­gentes, nem o ca­rácter de­ca­dente das po­tên­cias que con­ti­nuam a ver na guerra um dos ins­tru­mentos para manter o seu do­mínio.

O mundo está de facto mais ins­tável, in­se­guro, e pe­ri­goso. Es­tamos pe­rante uma re­acção do im­pe­ri­a­lismo que, como a re­a­li­dade o de­monstra, apro­funda ainda mais as causas da crise e faz es­talar as con­tra­di­ções do sis­tema. É a crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo em rá­pido de­sen­vol­vi­mento e a luta de classes em apro­fun­da­mento. E a ela há que res­ponder com luta, dura e tenaz. Por isso, dia 11 de Fe­ve­reiro todos à Praça do Co­mércio! A Praça que nesse dia será do povo, da luta e do fu­turo!



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